quarta-feira, 1 de julho de 2009

Como o grupo foi formado.


Há uns anos atrás, lendo uma revista semanal, vi uma matéria sobre a publicação do livro Teatro Completo de Qorpo-Santo. À época do meu aniversário, minha tia Dalva perguntou o que queria ganhar de presente. Não tive dúvidas. Paixão à primeira vista, devorei as peças e comecei a falar com os amigos sobre o autor. Poucos o conheciam. Começaram as reuniões em casa com o objetivo de lermos os textos.

Para os encontros nas noites de segunda, cada um trazia suas sugestões de leitura.Tabladinho debaixo da luz, dispúnhamos todas opções e começava a brincadeira. A idéia era manter o fluxo: quando um finalizava a leitura de seu fragmento, outro já assumia o foco. Entre tantas fontes, bebemos também poesias de Manoel de Barros, trechos de O Jogo da Amarelinha, de Júlio Cortázar, Diante da Palavra, do Novarina, trechos de Vigiar e Punir do Foucalt, Castro Alves, Cecília Meireles, Ésquilo, Nelson Rodrigues,letras de música ( Taís lendo uma música em japonês do Pizzicato Five foi impagável), bula de remédio,..., o que cada um quisesse levar para o grupo era válido. Inclusive trechos bem pessoais de agenda, com anotações do dia-a-dia. Era um grupo muito flutuante, não repetíamos a mesma formação em nenhuma semana.

Com o passar do tempo, as leituras me impulsionaram para a volta à universidade. Depois de algum tempo na UniRio, tentamos organizar um grupo de estudos, mas as leituras livres não funcionaram. Percebemos que faltava um objetivo ao grupo.

Em fevereiro de 2009 resolvemos formar a Qooperativa Amadores Profissionais. Tudo começou com uma cena que o Rodrigo e eu apresentamos no final de Interpretação IV, ministrada pela doce Tatiana Motta Lima, ao fim de 2008. Começamos a ensaiar nas férias a adaptação que fizemos do conto Aqueles Dois, de Caio Fernando Abreu, para inscrevermos a cena nos festivais de esquetes. Convidamos o Marcello e Aline para a jornada. Em seguida vieram Rita, Camila, Júlia e Stéfanie e o grupo chegou à sua formação atual.
Em abril fiz uma proposta ao grupo, que foi abraçada por todos: uma investigação do delicioso Felicidade Clandestina, livro de contos de Clarice Lispector. Iniciamos as leituras ainda em casa, mas logo decidimos partir para uma sala de ensaio. Temos utilizado as salas da Unirio para esse fim.

O trabalho começa com alguma atividade física vigorosa, que busque nos colocar em "estado de expressão". Nos primeiros encontros, investigamos as seis possibilidades nos apresentadas pela Tatiana semestre passado: andar, correr, pular, parar, ir ao chão e passar pelo chão. Sempre precedidas por um breve aquecimento individual, buscando relações entre o grupo e equilíbrio do espaço. Experimentamos o view point, traçando trajetórias retilíneas no espaço, com pontos de interseção. Nos últimos dois encontros, começamos a investigar a respiração como geradora de movimento, fazendo movimentos ascendentes na inspiração e descendentes na expiração. Esse é o "primeiro movimento" dos encontros, seguido de um breve intervalo.

No "segundo movimento", vem a pesquisa cênica propriamente dita. Apresentamos cenas que cada um trouxe para o grupo, às vezes alguma música. E começamos a ler juntos o Felicidade Clandestina, sempre caminhando pelo espaço, para "não criar raízes". Após dois meses de encontros, às segundas e sextas-feiras pela manhã, terminamos de ler o livro e pudemos selecionar os contos que começamos a trabalhar, que são: FELICIDADE CLANDESTINA, TENTAÇÃO, RESTOS DO CARNAVAL, A REPARTIÇÃO DOS PÃES, CEM ANOS DE PERDÃO, AS ÁGUAS DO MUNDO, UMA ESPERANÇA, O PRIMEIRO BEIJO, MACACOS, UMA HISTÓRIA DE TANTO AMOR, UMA AMIZADE SINCERA, A CRIADA, ENCARNAÇÃO INVOLUNTÁRIA e A QUINTA HISTÓRIA e COME, MEU FILHO.
Optamos por começar com trabalhos individuais, cada um com seu conto escolhido. Após esta fase, começaremos a trabalhar em duplas, para por fim, construirmos uma cena com todos. O conto escolhido para todos é A REPARTIÇÂO DOS PÃES (quem conhece o livro pode entender bem os porquês. Ou não. Quem não conhece... Corre atrás da sua e do seu Felicidade Clandestina).


Evoé.

F. Oz.

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